Passados quase 30 anos da redemocratização do país, o Estado continua a imprimir o mesmo tipo de repressão às manifestações políticas que eram feitas na época da ditadura militar. A avaliação é da representante do Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), Margarida Pressburger. Ela participou hoje (21) de um debate, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), sobre a violência da polícia contra manifestantes e jornalistas durante os protestos que tomaram as ruas das principais cidades do país.

Passados quase 30 anos da redemocratização do país, o Estado continua a imprimir o mesmo tipo de repressão às manifestações políticas que eram feitas na época da ditadura militar (Mídia NINJA)

“As manifestações têm sido um levante da juventude, o que é maravilhoso. Mas o que é intolerável é a violência policial que está sendo gerada. A polícia tem que ser preparada para defender a população e o que a gente está vendo é a barbárie, com a militarização e o uso de armas não letais, que deixam pessoas cegas e aleijadas. A polícia de hoje usa os mesmos meios [da época da ditadura] que a gente gostaria de ver afastados de nosso país”, disse Margarida.

O sociólogo Paulo Baía, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ), defendeu a desmilitarização da polícia como forma de garantir a defesa da população. “A violência policial contra os jornalistas é emblemática, porque atinge todas as formas de liberdade. Toda a organização da Polícia Militar foi contra o povo, porque ela foi preparada para proteger o Estado e não a população. É preciso uma nova estrutura, porque convém às elites ter uma polícia que encare as pessoas como inimigas e por isso enxerga a imprensa e os advogados como inimigos”, declarou.

A presidenta eleita do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, Paula Máiran, ressaltou que cabe aos policiais e também aos manifestantes respeitarem os profissionais de imprensa. “Nós temos uma situação muito grave, que é os jornalistas estarem sendo atacados tanto pelo Estado como por alguns manifestantes. No caso do Estado, temos vários ataques com spray de pimenta, com balas de borracha, agressões físicas e cerceamento ao trabalho. No caso dos manifestantes, percebemos um rechaço, com a não aceitação e até a expulsão da presença dos jornalistas nas manifestações. Em ambos os casos, é uma grave ameaça à liberdade de imprensa, que é um dos pilares da democracia”, disse.

O presidente da ABI, Maurício Azêdo, fez um apelo à diminuição de violência de todas as partes. “É um irracionalismo muito grande. Por parte dos manifestantes, eles não têm clareza dos métodos que devem utilizar para fazer valer suas reivindicações. Do ponto de vista da repressão, há uma violência a que agride o Estado Democrático de Direito. A tropa é deseducada e desinformada e não distingue os jornalistas, que estão cumprindo uma atividade profissional a fim de informar a sociedade, que é a principal missão da imprensa”, destacou.

O debate sobre a atuação policial nas manifestações ocorreu na sede da ABI, no centro do Rio, e reuniu jornalistas de várias gerações, além de profissionais que vêm cobrindo quase diariamente as manifestações nos últimos meses, incluindo representantes do grupo Mídia Ninja, que transmitiram ao vivo o encontro.

Por Vladimir Platonow e Aécio Amado da

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